A época das Selercas (ou Silarcas) está a chegar. Já surgem algumas publicações no Facebook com alguns exemplares deste fantástico cogumelo que geralmente aparece entre meados de Fevereiro até início de Abril.
O nome científico desta espécie é Amanita ponderosa e é um cogumelo cheio de curiosidades. Ao contrário de outros cogumelos que são comuns pelo resto da Europa ou no mundo, esta espécie só aparece numa pequena região e é quase endémica do sul da península Ibérica, só aparecendo também no norte de Marrocos. Mas por outro lado, e felizmente para os apreciadores, em alguns locais pode ser bastante abundante. Em Portugal, é no interior centro e sul que é mais comum e algumas destas regiões têm uma forte tradição de colheita e é praticamente desconhecida no litoral centro e norte
Quem aprecia este cogumelo silvestre garante que não existe outro com sabor comparável e há que o eleja o melhor cogumelo do mundo, mas também há quem não o aprecie de todo! (mas poucos), é caso para se dizer ou se adora ou se detesta!
Esta é uma espécie que à primeira vista poderá parecer perigosa, pois pertence a um grupo de cogumelos onde se encontram alguns mortais (género Amanita), no entanto possui características muito objectivas que o tornam muito fácil de identificar. Principalmente, o facto da sua carne se tornar rosa ao corte ou raspando, o cheiro muito característico e ser um cogumelo semi-hipógeo (não sai completamente para fora da terra). Para além de outras características mais vulgares, como o tom do chapéu, a densidade da carne, possuir uma volva ou não ter anel evidente. Por isso, só uma profunda falta de conhecimento poderia levar o colector a confundir com uma espécie perigosa.
Associado a este cogumelo, algumas regiões aproveitam esta época para promover vários eventos gastronómicos que atraem pessoas e fomentam o turismo para o interior do país, como por exemplo o festival do cogumelo na Cabeça Gorda (Beja). Em Espanha este cogumelo tem sido muito valorizado, sendo popular o festival do Gurumelo (nome vulgar lá dão a este cogumelo) em Huelva.
Ao contrário do que muitos gostariam, este é um cogumelo que não podemos produzir num ambiente artificial, pois está ligado às raízes de várias plantas, nomeadamente sobreiros, azinheiras e cistáceas (ex.: estevas) e por isso para bem dos nossos montados, se quisermos manter esta iguaria teremos também manter as nossas áreas de sobreiros e azinheiras.
A colheita desta espécie é bem diferente da maioria dos outros cogumelos, uma vez que ele se encontra parcialmente enterrado não é viável cortá-lo para colher. Por isso única forma será arrancá-lo. Para isso os colectores utilizam ferramentas próprias ou um simples formão para escavar sem partir muito o cogumelo nem destruir muito o local, pois é comum aparecer na mesma época mais cogumelos na mesma cova, se esta não for demasiado destruída e se tivermos o cuidado de tapar o buraco depois da colheita.
A colheita destes cogumelos é um autêntico desafio, só um olho bem treinado é capaz de os encontrar, pois como já dissemos mais atrás, como eles estão semi-enterrados, muitas vezes só se conseguem observar as rachas na terra (“arregoas”) e quase sempre escondidos junto a sargaços ou estevas. Felizmente, como é um cogumelo micorrízico, os colectores sabem que todos os anos crescem nos mesmos locais e por isso é só procurar muito bem.
Outra curiosidade deste cogumelo, e embora possa ser controverso, mas parece que este cogumelo beneficia das práticas habituais dos montados. Ou seja, ao contrário de outras espécies, a Amanita ponderosa aparece em abundância mesmo em terrenos recém lavrados e tende a desaparecer onde os matos se tornam demasiado altos e os terrenos sombrios. Pois este também é um cogumelo que embora apareça no final do Inverno e início de Primavera, é um cogumelo que gosta de sol e calor, sendo os primeiros da época a surgirem em encostas de terrenos áridos ou rochosos, quase sem vegetação voltadas a sul e expostas ao sol.
Infelizmente também se assiste a um sem-número de más práticas de colheita, nomeadamente a colheita de exemplares muito imaturos ainda no estado de ovo, colheita com enxadas, utilização de sacos de plástico para transporte e colheitas em terrenos alheios sem autorização.
A forma mais popular do seu consumo, consiste em confeccioná-los com ovos, mas existem muitas outras formas, como ensopados, estufados com carne e simplesmente grelhados com sal e azeite. Alguns restaurantes têm disponíveis o ano inteiro, mantendo-os congelados, permitindo assim matar saudades daquele sabor tão característico.
Aproveite esta época para descobrir mais curiosidades acerca deste cogumelo, mas sempre com segurança!
Fotografias deste cogumelo:
https://www.facebook.com/pg/QuadranteNatural/photos/?tab=album&album_id=10154110356596986
Para mais informações deixamos algumas ligações:
https://www.facebook.com/events/105112363311575/
http://elgurumelo.blogspot.pt/
http://www.huelvainformacion.es/huelva/Paymogo-celebra-Feria-Gastronomica-Gurumelo_0_679132354.html
http://www.icnf.pt/portal/agir/boapratic/resource/doc/guia-colet-cog
Restaurantes:
https://www.tripadvisor.pt/Restaurant_Review-g312717-d2637210-Reviews-A_Luria-Tomar_Santarem_District_Central_Portugal.html
https://www.tripadvisor.pt/Search?geo=&pid=3825&redirect=&startTime=undefined&uiOrigin=MASTHEAD&q=silarcas&returnTo=http%253A__2F____2F__www__2E__tripadvisor__2E__pt__2F__Restaurant__5F__Review__2D__g312717__2D__d2637210__2D__Reviews__2D__A__5F__Luria__2D__Tomar__5F__Santarem__5F__District__5F__Central__5F__Portugal__2E__html&searchSessionId=D023D3A987E740D500C299426AB97CBC1487625056832ssid